Você, cofounder em uma empresa que tem um time maior que 30 pessoas, já pensou como que seria se de um dia para o outro boa parte do seu time decidisse sair da empresa?
O que fazer para reduzir este risco de forma efetiva?
Na minha opinião e experiência própria, o primeiro passo é escolher a perspectiva correta para modelar o problema. É sutil, mas tem um impacto enorme nas ações que são propostas.
Prender vs. Atrair
Ao invés de focar em reter (“prender”) as pessoas, pense no que a sua empresa pode oferecer para elas. Qual é a sua proposta de valor para atrair a vontade das pessoas em ficar na sua empresa?
Para deixar mais tangível, seguem dois exemplos de framings diferentes. Um exemplo mostra como “prender” as pessoas e o outro exemplo mostra como deixar a sua empresa atrativa, a ponto das pessoas querem ficar.
Perspectiva 01: O que fazer para evitar que as pessoas saiam? Como faço para “prender” as pessoas? |
1. Pagar um curso ou treinamento e exigir que a pessoa fique por X anos. Se sair antes, terá que pagar uma multa. 2. Pagar bônus anualmente, somente para quem estiver na empresa na data do pagamento. Quem sair antes não recebe nada, o pagamento é binário: tudo ou nada. 3. Montar um plano de carreira longo e atrativo, mas que é difícil ou demora muito para a pessoa ser promovida porque os saltos de remuneração são grandes. Ou seja, se a pessoa esperar até a (demorada) promoção, essa espera vai “valer a pena”, porque a diferença vai ser grande. |
Olhando assim, é fácil perceber as desvantagens destas ações. Todas elas geram um desincentivo de saída temporário. São algemas que perdem o efeito com o passar do tempo. E pior, elas geram riscos de evasões concentradas em determinadas datas.
No geral, este tipo de iniciativas também podem gerar emoções relacionadas à aprisionamento e desconfiança, uma relação de perde-ganha entre sua empresa e seu time.
Por outro lado, se você usar uma outra perspectiva (um outro framing), as iniciativas resultantes podem ser bem diferentes. Veja exemplos abaixo.
Perspectiva 02: O que fazer para as pessoas quererem ficar? O que posso oferecer de valor para que a minha empresa seja atrativa? |
1. Cultivar uma cultura que incentiva o aprendizado e desenvolvimento das pessoas. Disponibilizar orçamento para cursos e treinamentos, constantes. A pessoa vai ficar porque há cursos e treinamentos frequentes e está sempre se desenvolvendo. Há (muitos) casos em que a pessoa escolhe ficar na empresa em que ela aprende e se desenvolve, ao invés de trocar por uma empresa que simplesmente oferece um salário maior mas não tem perspectivas de desenvolvimento. 2. O bônus é pago proporcionalmente ao tempo que a pessoa ficou ou algum outro critério de proporcionalidade. Não há “algemas” para a pessoa ficar até a data do pagamento. Gera-se uma percepção de critérios mais justos. A pessoa pode sair quando quiser (se quiser sair…). 3. Montar um plano de carreira com critérios de progressão claros e prazos compatíveis com a progressão de desempenho das pessoas. Promoções com “saltos” menores e mais frequentes podem ser mais atrativos, ao passo que dão senso de progresso de carreira e de reconhecimento financeiro. |
Estas iniciativas podem gerar emoções de pertencimento e fidelidade (ao invés de aprisionamento e desconfiança). E, por ser algo bom, elas querem que a empresa prospere e se dedicam para isso acontecer. Desta forma, elas podem crescer juntos com a empresa. É uma relação ganha-ganha.
Neste caso, as pessoas ficam na empresa porque querem estar lá ao invés de ficar porque foram impedidas de sair.
Para resumir: seja a Netflix ao invés de TV à cabo. Lembre-se do processo de contratar e cancelar sua assinatura com TV à cabo: ao contratar o serviço eles te oferecem um desconto condicionado à sua “fidelidade” por 12 meses. Ou seja, uma algema no contrato.
E quando você quer cancelar eles te dizem: “Um momento, vou te transferir para o departamento de ‘retenção‘ de clientes.” – não é isso que as empresas te falam? O resto da história você já conhece…
Já a Netflix… tem uma pegada bem diferente. Ela está numa saga incansável para criar experiências de uso e conteúdos de qualidade, de forma que você tenha vontade de continuar assinando o serviço.
E então, este texto fez sentido para você?
Se você quiser transformar este texto em ações práticas, comece a elaborando o EVP – Employee Value Proposition (Proposta de Valor às pessoas Funcionárias). E se você tiver alguma dúvida ou quiser mais dicas de como montar o EVP da sua empresa, pode me procurar no Linkedin ou me enviar um email. 😉